Ah nós MULHERES que somos metade NORMAL, metade INSANA, como diz num trecho do livro de Martha Medeiros "Toda mulher é doida, impossível não ser, nós nascemos com um dispositivo interno que informa desde cedo que a vida sem amor não vale a pena"

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Casamento: onde menos se faz sexo

"Quando o desejo acaba e o amor continua"

Miriam, 29 anos, chegou ansiosa ao meu consultório: “Sou casada há três anos, amo muito meu marido; não consigo imaginar a vida sem ele. É meu melhor amigo e companheiro. Gosto quando ficamos juntos, abraçados ternamente, ele fazendo cafuné na minha cabeça. Mas, ao primeiro sinal de um carinho mais sexual, uso algum pretexto para me afastar. Não desejo fazer sexo com ele de jeito nenhum. Durante nosso namoro e no início do casamento eu gostava muito, mas agora só a ideia já me desagrada. Não conto isso para ninguém. A família e os amigos nos veem como exemplo de um casamento perfeito.”
Paulo, 38 anos, casado há sete, está desanimado: “Amo demais a minha mulher. Nossa vida é ótima; pensamos de forma parecida e nunca brigamos. Mas vivo um problema sério: Laís nunca quer fazer sexo. Sempre arranja uma desculpa para escapar. Namoramos durante cinco anos, e você acredita que o sexo era o ponto alto da relação? Não entendo porque mudou tanto. Já faz mais de dois meses que transamos a última vez. Se eu não insistir, acho que ela nunca vai se lembrar que sexo existe. Não gostaria de procurar outra mulher nem de me separar, mas estou cansado de só ter prazer me masturbando.”
Os exemplos acima representam o que ocorre em grande parte dos casamentos. É muito maior do que se imagina o número de mulheres que fazem sexo com seus maridos sem nenhuma vontade. Dor de cabeça, cansaço, preocupação com trabalho ou família são as desculpas mais usadas. Elas tentam tudo para postergar a obrigação que se impõem para manter o casamento. Quando o marido se mostra impaciente, o carinho que sente por ele, ou o medo de perdê-lo, faz com que a mulher se submeta ao sacrifício. Há algumas décadas, o filósofo inglês Bertrand Russell afirmou: “O casamento é para as mulheres a forma mais comum de se manterem, e a quantidade de relações sexuais indesejadas que elas têm que suportar é provavelmente maior no casamento do que na prostituição.”

Ter filhos era um dever do casal. Até meados do século XIX, quando o amor ainda não fazia parte do casamento, havia uma regra para a vida a dois. Era o dever conjugal a ser cumprido, principalmente na cama. Caso um dos dois cônjuges recusasse o ato sexual, recorria-se ao confessor, que censurava e podia negar a absolvição e a comunhão.
Da mesma forma que antes deveria ficar em segredo o ardor entre o casal, se houvesse, agora se tenta ocultar a diminuição ou o término do desejo sexual entre marido e mulher. Essa questão só passou a ser problema — o maior enfrentado pelos casais — quando, recentemente, o amor e o prazer sexual se tornaram primordiais na vida a dois e se criaram expectativas em relação a isso. Jornais, revistas e programas de tevê fazem matérias, tentando encontrar uma saída para a falta de desejo sexual no casamento. Como resolver a situação de casais que, após alguns anos de vida em comum, constatam decepcionados terem se tornado irmãos?
Alguns dizem que é necessário quebrar a rotina e ser criativo. As sugestões são variadas: ir a um motel, viajar no fim de semana, visitar uma sex-shop. Mas isso de nada adianta. O desejo sexual intenso é que leva à criatividade, e não o contrário. Quando não há desejo, a pessoa só quer mesmo dormir. Quem se angustia com essa questão sabe que desejo sexual não se força, existe ou não.
A falta dele no casamento nada tem a ver com falta de amor. Muitas mulheres, como Miriam, amam seus maridos, só não sentem mais desejo algum por eles. O sofrimento da mulher é maior quando ela reconhece no parceiro um homem inteligente, generoso, afetivo, e o mais doloroso de tudo: um homem que a ama e a deseja. Nesses casos é comum ouvirmos lamentos do tipo: “Nunca vou encontrar ninguém parecido.” E com medo do novo, de ficar sozinha, pode acabar optando por uma relação assexuada, até convencendo o marido que sexo não é tão importante.

O número de homens que perdem o desejo sexual no casamento é bem menor do que o de mulheres. Para cada homem que não tem vontade de fazer sexo há pelo menos quatro mulheres nessa situação. Alguns fatores podem contribuir para isso. Em primeiro lugar, o homem, na nossa cultura, é estimulado a iniciar a vida sexual cedo e se relacionar com qualquer mulher. Outra razão seria a necessidade de expelir o sêmen e, por último, a sua ereção seria mais rápida do que a da mulher, na medida em que necessita de menos quantidade de sangue irrigando seus órgãos genitais.
Não é necessário dizer que existem exceções, e que em alguns casais o desejo sexual continua existindo após vários anos de convívio. Mas não podemos tomar a minoria como padrão. Por que o desejo acaba no casamento? Mesmo que os dois se gostem, a rotina, a excessiva intimidade e a falta de mistério acabam com qualquer emoção. Busca-se muito mais segurança que prazer. Para se sentirem seguras, as pessoas exigem fidelidade, o que sem dúvida é limitador e também responsável pela falta de desejo. A certeza de posse e exclusividade leva ao desinteresse, por eliminar a sedução e a conquista. Familiaridade com o parceiro, associada ao hábito, podem provocar a perda do desejo sexual, independente do crescimento do amor e de sentimentos como admiração, companheirismo e carinho.
E o que fazer quando o desejo acaba? Essa é uma questão séria, principalmente para os que acreditam ser importante manter o casamento. É fundamental todos saberem que na grande maioria dos casos não se trata de problema pessoal ou daquela relação específica, e sim de fato inerente a qualquer relação prolongada, quando a exclusividade sexual é exigida. Essa informação pode evitar acusações mútuas, em que se busca um culpado pelo fim do desejo. O preço é a decepção de ver se dissipar a idealização do par amoroso. No entanto, a partir daí fica mais fácil cada um decidir o que fazer da vida.
As soluções são variadas, mas até as pessoas decidirem se separar há muito sofrimento. Alguns fazem sexo sem vontade, só para manter a relação. Outros optam por continuar juntos, vivendo como irmãos, como se sexo não existisse. E ainda existem aqueles que passam anos se torturando por não aceitar se separar nem viver sem sexo.
Falta uma reflexão a respeito do modelo de casamento vivido na nossa cultura. Nega-se o óbvio: o desejo sexual por outras pessoas constitui parte natural da pulsão sexual. Quando essa mentalidade mudar, as torturas psicológicas e os crimes passionais certamente diminuirão, assim como inúmeros outros fatores que geram angústia.

Esse texto de Regina Navarro , mostra a realidade da maioria dos casamentos de hj,  é uma triste realidade, fica aqui para reflexão de todos nós, para pensarmos , afinal nós estamos aqui pra ser feliz, a vida é aqui e agora.


Texto de REGINA NAVARRO LINS
Escritora e Psicoterapeuta

Um comentário:

  1. Achei bem interessante esse texto. Eu já vivi isso num relacionamento meu. Primeiro a perda do interesse foi minha, depois dele, e viviamos como amigos mesmo. Depois a amizade esfriou, e não restou muita coisa... rs

    Beijocas

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